quarta-feira, 10 de novembro de 2010

La Lunna 1 – MULHERES: A ILUSÃO DOS DIREITOS DEMOCRÁTICOS

O feminismo aparece, nos fins do século XVIII, como doutrina de defesa dos direitos democráticos das mulheres, no interior da Revolução burguesa de 1789. No período histórico da Revolução Francesa, o feminismo passou a atuar como movimento político, reivindicando a melhoria das condições de vida e trabalho das mulheres, a sua participação política, o fim da prostituição, o a acesso à educação e a igualdade de direitos entre os sexos.
votesforwomen La Lunna 1   MULHERES: A ILUSÃO DOS DIREITOS DEMOCRÁTICOS Após a Revolução Francesa, surgiram, no interior do movimento feminista, diversas outras doutrinas da libertação da mulher, que nem sempre tiveram preocupações convergentes. Mas ainda que existam diferenças claras entre as diversas abordagens feministas, parece-nos que existe entre elas certa identidade teórica. Em geral, os estudiosos da questão feminina buscam apoio para desenvolver as suas formulações doutrinárias, em conceitos que não se entrelaçam com o movimento político concreto das mulheres, mas sim, sobretudo, procuram apoiar-se em dados da antropologia, da economia, da sociologia, da psicologia e de outras ciências humanas. As diversas doutrinas sobre o feminino não se relacionam à própria prática política das mulheres. Podemos dizer que nesses movimentos existem grandes contradições, pois sendo o feminismo um movimento de mulheres, as teorias sobre o feminino costumam falar de uma espécie de Universal Mulher, ou seja, de uma mulher, presente em qualquer época histórica. Constrói-se assim a crença de que existe a Mulher enquanto conceito Universal.
Com o avanço da tecnologia, muitas transformações ocorreram na vida humana e para o trabalhador, em especial, elas tiveram um grande impacto. Esse novo processo se deu basicamente na fábrica, permitindo o aperfeiçoamento da divisão do trabalho. Com a introdução da maquinaria no século XIX, a base técnica do processo de produção não se encontrava mais no saber do trabalhador, mas sim, na maquinaria e em seu manejo mecânico.
A grande indústria capitalista, como dizia Marx, passou então, a exigir menos força física no processo de trabalho, e, consequentemente, a mão-de-obra feminina encontrou seu lugar no processo de produção capitalista. Então, para Marx, a mulher é lançada no mercado de trabalho do mesmo modo que o homem da classe operária, e como ele, tem a sua força de trabalho apropriada indevidamente pelo capital.
Concluindo, a conquista de direitos e a verdadeira emancipação da mulher não podem ocorrer dentro do sistema capitalista. A luta das mulheres é de toda a classe trabalhadora contra a burguesia. Como vimos, a história tem demonstrado que as relações entre homens e mulheres são construídas com base em determinadas realidades sociais e também, que o avanço do capitalismo fez com que essas relações se tornassem cada vez mais complexas, permanecendo, contudo, a desigualdade e a opressão. Em seu surgimento, o movimento feminista pensava em questões ligadas à prática política, hoje tornou-se apenas mais uma produção da pesquisa acadêmica. Exemplo disso é a mais recente lei Maria da Penha que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar, mas ao mesmo tempo, os projetos de lei orçamentária reduzem os recursos para o combate à violência.
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“La Lunna” é onde trataremos dos assuntos voltados ao universo feminino, sempre visando uma abordagem relevante no que diz respeito à história e aos direitos daquelas que são nossa fonte de inspiração

ORIGEM

O 8 de março e a fúria secular da mulher trabalhadora


Primeiro encontro de Engels com Clara Zetkin
no Congresso Internacional Socialista em Zurique, em 1893

As mulheres levam sobre seus ombros a metade do céu e devem conquistá-lo"

Mao Tsetung


Há cem anos, Clara Zetkin, destacada dirigente do Partido Social Democrata (Comunista) Alemão e da Internacional Comunista, propôs à II Conferência de Mulheres Socialistas, realizada em Copenhague, Dinamarca, que se definisse um dia de luta das mulheres para todo o movimento comunista internacional.
Era então agosto de 1910 e no mundo inteiro as mulheres militantes revolucionárias participavam da árdua tarefa delegada pela Segunda Internacional, quando esta ainda era composta pelos principais partidos e personalidades revolucionárias da época: a criação de autênticos partidos comunistas para dirigir a luta revolucionária em seus países. Já naquele período as potências imperialistas começavam a tocar os clarins para a primeira guerra imperialista de proporção mundial.
A proposta de Clara Zetkin, aprovada por aclamação na conferência de mulheres, foi preparada com afinco em vários países. Em 19 de Março de 1911, a primeira celebração do Dia Internacional da Mulher Trabalhadora mobilizou mais de um milhão de mulheres que tomaram as ruas das cidades da Alemanha, Suíça, Áustria e Dinamarca. Em Berlim ocorreram 42 reuniões naquele dia, o mesmo se deu em toda a Alemanha. No encerramento dessas reuniões, as mulheres desfilavam pelas ruas empunhando cartazes. Na Áustria, mais de 30 mil mulheres manifestaram-se nas ruas de Viena*.
Em 1912, milhares de mulheres reuniram-se em Essen, Leipzig e Erfurt. Grandes passeatas tomaram as ruas de Dusseldorf e Berlim, desdobrando-se em enfrentamentos com a polícia, resultando em inúmeras prisões das militantes mais combativas. Em 1912 e 1913 ocorreram reuniões de manifestações na Suécia. Também no ano de 1913, apesar da repressão tsarista, as revolucionárias russas celebram o dia em reuniões clandestinas em Moscou, Kiev, São Petersburgo, entre outras cidades. Em 1914, em Paris, mais de 20 mil mulheres promoveram a primeira celebração do dia internacional de luta das mulheres na França.
No dia 23 de fevereiro de 1917 do calendário gregoriano (8 de março no calendário ocidental), as mulheres russas manifestaram-se em São Petersburgo exigindo pão, o regresso dos maridos enviados para a frente de batalha na I Guerra Mundial, a Paz e a República. A greve estendeu-se rapidamente a todo o proletariado. Em poucos dias a greve de massas transforma-se numa insurreição e ao fim de cinco dias cai o império russo. A partir desse dia, o 8 de março passou a ser considerado a data mundial para a celebração do Dia Internacional da Mulher Trabalhadora.
A historiografia oficial, nos anos de 1950, tentou suprimir estas referências históricas excessivamente vinculadas ao movimento comunista internacional, oferecendo a versão do incêndio da fábrica têxtil no USA ou da manifestação das operárias em Nova Iorque para desvincular a data e seu caráter de classe, bem como o papel da luta revolucionária na determinação deste dia.
Resgatamos aqui sua história escrita com o sangue de inúmeras lutadoras do povo ao longo de séculos de luta, homenageando as heroínas da luta pelo socialismo nesse centésimo 8 de março.
 
*Informações divulgadas em artigo publicado por Clara Zetkin no jornal Die Gleichheit (A Igualdade). Órgão de imprensa dirigido às mulheres, cujo primeiro número foi publicado em janeiro de 1892. Clara Zetkin foi sua redatora-chefe até 1917.

Alguns dados da situação econômico-social das mulheres

  • Em 2009 a Organização Internacional do Trabalho — OIT previu um aumento do desemprego mundial de até 51 milhões de pessoas sendo, destes, 22 milhões de mulheres;
  • O relatório da OIT sobre "A evolução do trabalho decente no Brasil entre 1992 e 2007" aponta que a jornada semanal média das mulheres, incluindo o trabalho doméstico, soma 57,1 horas e ultrapassa em quase cinco horas a masculina (52,3 horas);
  • Em 2007, enquanto que a taxa de desemprego masculina era de 6,1% a feminina estava situada em 11%;
  • Dados da Unesco de 2009 apontam que 776 milhões de adultos em todo o mundo não sabem ler nem escrever, o que significa 16% da população mundial. Dois terços desses analfabetos são mulheres;
  • Dados da Fundação Seade/Dieese de 2009 apontam que as mulheres paulistas são maioria entre os desempregados naquele estado e, quando empregadas, têm salário menor. De acordo com o estudo da Fundação, o rendimento médio real por hora das mulheres empregadas teve uma pequena queda em relação ao ano anterior (-0,9%) e passou a corresponder a R$ 5,76. O valor equivale a 76,4% do que é ganho pelos homens (R$ 7,53);
  • Nos últimos 15 anos, o número de famílias chefiadas por mulheres aumentou mais de 10 vezes no Brasil e saltou de 301 mil, em 1993, para 3,6 milhões, em 2007. Os dados divulgados em 2009 fazem parte do estudo "Retrato das desigualdades de gênero e raça", realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em parceria com a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem);
  • Relatório da Federação Internacional de Planejamento Familiar (IPPF, na sigla em inglês), divulgado em 2007 estimava que 19 milhões de abortos clandestinos seriam realizados no mundo naquele ano, provocando a morte de 70 mil mulheres, além de deixar sequelas em milhares de outras. O estudo estimava que mais de 96% das gestantes que perdem a vida ou sofrem danos à saúde por causa de abortos inseguros vivem nos países mais pobres do planeta, a maioria na África;
  • No Brasil, os abortos ilegais são responsáveis pela morte de 180 a 360 mulheres por ano;
  • Os abortos clandestinos são a quarta causa de morte materna no Brasil. Em 2006, 230.523 mulheres fizeram curetagens pós-aborto em hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS). O procedimento é indicado tanto para mulheres que sofreram aborto espontâneo quanto para quem sofreu complicações decorrentes da interrupção induzida da gravidez;
  • Infecções, hemorragias vaginais e outras complicações decorrentes de abortos ilegais foram responsáveis por cerca de 1,2 milhão de internações de mulheres em todo o país entre 2002 e 2007. 
ORIGEM