segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Século XIX, França - As mulheres na indústria têxtil por Michelle Perrot


«As operárias do séc. XIX são essencialmente as empregadas das grandes fábricas de têxteis. Um mundo regido por homens, submetidas a um apertado comportamento moral onde lhes é vedada toda e qualquer reivindicação política – e que eram obrigadas a abandonar quando fundavam uma família. As fábricas eram um mundo também de solidão embora de relativa independência económica. Um mundo onde as operárias serão cada vez e, maior número e de algum modo geral consideradas como símbolo da sua emancipação.»



Século XIX, França - As mulheres na indústria têxtil
por Michelle Perrot
Le Temps de la lutte das classes: patrons et ouvriers français dans l’aventure industrielle, Tradução livre e resumo do texto publicado na revista L’Histoire Spécial, Janvier 1996, nº 195.
(Para o portal do Centro de Documentação e Arquivo Feminista Elina Guimarães, por Luísa de Paiva Boléo).
Michelle Perrot
Professora de História Contemporânea na Universidade de Paris VII - Jussieu. Publicou, entre outros «Grèves Feminines, les ouvriers en grève - France 1871-1890, 1974; «Jeunesse de la grève», 1984; dirigiu o tomo IV da «História da Vida Privada»; «Da Revolução à Grande Guerra», 1987. Coordenou, com Georges Duby «A História das Mulheres no Ocidente - da Antiguidade aos nossos dias (5 tomos, 1990-1992). No nº 160 da revista L' Histoire, publicou o artigo «Le XIX siècle était-il misogyne?»
Introdução
«As operárias do séc. XIX são essencialmente as empregadas das grandes fábricas de têxteis. Um mundo regido por homens, submetidas a um apertado comportamento moral onde lhes é vedada toda e qualquer reivindicação política – e que eram obrigadas a abandonar quando fundavam uma família. As fábricas eram um mundo também de solidão embora de relativa independência económica. Um mundo onde as operárias serão cada vez em maior número e, de algum modo geral, consideradas como símbolo da sua emancipação.»
A família e a indústria têxtil
Michelle Perrot pergunta como é que a industrialização em França contribuíu para mudar a vidas das mulheres e qual o seu contributo como mão-de-obra na produção industrial; quais as suas condições de vida e as relações entre os sexos e o que as fez evoluir.
A palavra operária só surgiu por volta de 1820. Michelet diz que “operária” é “palavra ímpia”; Jules Simon considera que uma operária não é uma mulher e Kafka com comiseração afirmou que as trabalhadoras de uma fábrica de amianto não eram “seres humanos”. Em suma, nos primórdios da Revolução Industrial, ser-se operária da indústria e feminina era uma relação conflituosa.
A proto-industrialização de Colbert no século XVII usava a mão-de-obra feminina inserida na família com tarefas específicas do seu sexo, antes da mecanização total da indústria têxtil. Em 1840 as mulheres e crianças eram 75% da mão-de-obra não esquecendo a força da tradição e da ligação das mulheres à feitura e tratamento da roupa de casa, que em termos portugueses diríamos “roupa branca” que englobava a roupa de baixo (da roupa de cor mais fina e não acessível a toda a população) e a roupa como lençóis, toalhas, panos de mesa, de cozinha, faixas para os bebés ou panos diversos destinados aos hospitais.[1]
Michelle Perrot recorda o ditado: «A l’homme, le bois e les métaux. A la femme, la famille e les tissus» (Ao homem a madeira e os metais, à mulher a família e os tecidos).
Apenas em 1841 surge uma lei que proibiu empregar crianças com menos de oito anos e a escolaridade obrigatória foi decretada em 1881. Com estas restrições na Grã-Bretanha, a partir de 1850 desce a percentagem de mulheres operárias, no entanto em França a percentagem sobe e em 1906 é de 36,2% e vai subindo nas indústrias química e metalúrgica.
O emprego das mulheres na indústria interferia com as suas vidas familiares. Uma operária fabril era primeiro uma dona de casa a quem cabia toda gestão da casa e do lar, os cuidados com as crianças, com o marido e todos os trabalhos domésticos. As operárias, depois do segundo filho (a natalidade manteve-se elevada em França nestas camadas operárias) e sem creches ou outros equipamentos semelhantes (os asilos eram escassos), acabam por abandonar o trabalho a tempo inteiro e recorrem a pequenos trabalhos como, tratar dos filhos de outras trabalhadoras, lavagem de roupa, etc., para manterem um «salário suplementar» que elas desejavam vivamente trazer para o orçamento familiar.
As operárias entravam normalmente aos dez ou doze anos para a fábrica, quase sempre depois da primeira comunhão e na maioria das vezes saíam entre os vinte e os vinte e cinco anos, porque a primazia era dada à constituição de uma família.
Normalmente os trabalhos que elas executavam nas fábricas não requeria aprendizagem específica e raramente podiam seguir uma «carreira», excepção feita na manufactura do tabaco, como indústria quase sempre estatal, onde uma determinada permanência lhes conferia uma reforma. Há uma outra excepção que Michelle Perrot frisa que é no campo da moda, onde certas mulheres fizeram carreira com sucesso.
Ora estas operárias têxteis além de mal pagas são facilmente despedidas e nos registos que se encontram não estão sequer divididas por categorias profissionais. A elas estão destinadas as tarefas mais elementares e mais sujas e quantas vezes são vítimas de abusos sexuais tanto na fábrica como nos trajectos de e para o local de trabalho. Elas têm menos benefícios porque se parte do princípio que terão uma família que as sustenta. Resumindo, a individualidade económica das mulheres não existe como não existe a sua individualidade política.
O modelo de fábrica-convento
Esta mão-de-obra jovem suscita os desejos dos homens e é vítima de assédio e de abusos sexuais, denunciado pelos movimentos operários que consideravam este novo patronato como um novo feudalismo (que vigorou nos tempos medievais por grande parte da Europa[2]) quando os contramestres se sentiam com o «droit de cuissage» (“direito de pernada”, isto é de terem relações com as virgens na sua condição de patrões ou senhores das terras onde estas nasciam e viviam). Nos pequenos jornais dos operários, em 1890, nomeadamente Le Forçat, La Chaine du forçat são constantemente denunciados esses abusos. Em 1905 a greve insurreccional de Limoges, teve como origem precisamente as vilanias do director da fábrica de porcelana Haviland.
Como funcionava afinal uma fábrica de mulheres?
Tratava-se de mulheres jovens ou viúvas rodeadas de homens com conhecimentos técnicos ou contramestres num local fechado e em constante proximidade, sem espaços neutros, sem vestiários e raramente com lavabos cujo uso era gerador de conflitos por ter um apertado regulamento. Reinava na fábrica uma disciplina estrita: era proibido falar, cantar, comer, sair do lugar, sair sem se ser substituída, usar sabão sem permissão do chefe, sob pena de despedimento. Atrasos ou absentismo eram severamente punidos. Entrava-se cedo e saía-se tarde. Há casos de fábricas que optaram por turnos com separação dos sexos porque a moralidade vigente obrigava a que na saída, eles e elas se não encontrassem e, muitas vezes, eram as próprias famílias a controlar as saídas.
No começo da industrialização, no entanto, há dados de que em Reims o magro salário obrigava algumas mulheres a fazer o “cinquième quart de journée”, isto é, a prostituírem-se. Para preservar a moralidade dos costumes com tantas jovens operárias, alguns patrões cristãos do sudoeste de França criaram as fábricas-internatos inspirados no modelo norte-americano de Lowell (Massachusetts.)
Estas primeiras fábricas com internato foram instaladas em Jujurieux (Ain) (Ródano-Alpes) e La Séauve (Alto Loire) e ensaiado nas fábricas de seda do sudoeste francês. Este sistema teve o seu apogeu por volta de 1880 e abrangia cerca de 100 000 jovens do sexo feminino que provinham de instituições de Assistência social (órfãs, sem família, etc.) e dos campos vizinhos e depois mesmo do Piemonte (Norte de Itália que faz fronteira com a França) onde uma rede de agentes recrutava essas jovens com atraentes promessas. Na zona de Lyon um pai com filhas era considerado um homem afortunado - com o dinheiro que elas recebiam, podiam pagar as suas dívidas e comprar terras. Pelo lado delas, podiam amealhar um pequeno dote o que lhes permitia casar. Por seu lado, os pais velavam pela boa reputação das filhas, o que afinal era vantajosa para toda a família.
No entanto essas fábricas impunham um horário de convento, quase de clausura. Trabalhavam doze a catorze horas por dia em silêncio, quantas vezes rezando. Os dormitórios possuíam uma capela e fora desses espaços eras-lhes interdito movimentarem-se. Aos domingos de manhã tinham missa e a todo o género de exercícios espirituais. Ao fim do dia davam um pequeno passeio ou ouviam leituras edificantes. Durante uns tempos só podiam ir a casa da família de seis em seis semanas, depois progressivamente ao sábado o que significava poderem trazer provisões para se alimentarem um pouco melhor.
Estas jovens operárias eram duplamente vigiadas: pelos contramestres laicos durante o trabalho fabril e por religiosas nas outras horas do dia e da noite. Foi assim durante o Segundo Império (com Napoleão III), porém, com a 3ª República (1870)[3] mais laica, há outra consciência de classe e surgem as greves, onde as mulheres são ainda uma minoria. Entre 1870-1890 os números são de 3,7% de mulheres para 35% de homens. As greves das mulheres reivindicavam primordialmente mais higiene, melhores condições de trabalho, com mais humanidade. As jovens grevistas da indústria da seda, em 1880 em Ardèche saíram das fábricas a cantar, faziam monos com as caras dos patrões que queimavam dançando em roda. Para estas jovens reprimidas, as greves revestiam-se de um cunho de fuga e de festa.
Seguiram-se uma série de greves de operárias da seda em Lyon (1869); Viena (1890); Troues (1900); Vizille e Voiron (1905-1906) e depois também das empregadas do tabaco e da indústria conserveira.
As grevistas de Lyon chamaram a atenção das responsáveis da 1ª Internacional que pensaram convidar a mentora da greve Filomena Rosália Rozan, o que se não concretizou.
Com a 1ª Guerra Mundial as mulheres passaram a trabalhar em fábricas dos chamados sectores viris como a metalurgia, os vidros ou a mecânica, podendo mesmo trabalhar em fábricas de produtos químicos e na indústria alimentar (conservas, açúcar ou bolachas). Muitas havia que trabalhavam em ateliers de costura que escapam à inspecção de trabalho. Marginalizadas no trabalho, eram-no também nos movimentos operários, com a exaltação da força física e da virilidade desportista.
O Caso Emma Couriau
A participação das mulheres nos sindicatos ressente-se na sua marginalidade, no entanto em 1913 dá-se o «Caso Emma Couriau». Tipógrafa em Lyon, casada com um operário da mesma fábrica viu ser-lhe recusada a adesão ao sindicato e o marido erradicado, também. As feministas tomaram o caso de Emma muito a peito e o assunto deu muito que falar, porém só com a intervenção da CGT (Confédération Générale du Travail, fundado em 1895) foi imposta a entrada de Emma no sindicato como tipógrafa e com a mesma designação usada para os homens. No entanto, o seu caso não foi gerador de mais igualdade na fábrica.
Depois da Grande Guerra a operária era uma das figuras possíveis da modernidade que uma outra, mais atraente, a da empregada, iria distanciar. Mais do que a oficina ou fábrica, o escritório tornar-se-ia num mundo de mulheres, ou talvez o mundo de mulheres com as suas ilusões e sonhos.
Luísa de Paiva Boléo
Carvoeira 2008-07-17
[1] Nota de Luísa P. Boléo
[2] Nota da tradutora
[3] Napoleão III funda o 2º Império que vigora de 1852 a 1879. Segue-se a 3ª República onde permanece no poder. Período de desenvolvimento económico.

A situação das mulheres no século XIX: Depoimentos e Reportagens de Época



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Esposa: John! Onde está o resto de nosso salário?
Como eu vou pagar o aluguel e comprar comida para as crianças?
Marido: Cale a boca! O que eu faço com meu dinheiro não é problema seu.
Charge publicada no jornal "The Vote", da Womens Freedom League, Fevereiro de 1911
"Em 1857 a lei do divórcio foi aprovada e, como é bem conhecido, definiu legalmente diferentes parâmetros morais para homens e mulheres. De acordo com essa lei, um homem poderia obter a dissolução de seu casamento se ele pudesse provar um ato de infidelidade de sua esposa; porém uma mulher não poderia desfazer seu casamento a não ser que pudesse provar que seu marido fosse culpado não apenas de infidelidade, mas também de crueldade".
(Millicent Garrett Fawcett, em seu livro "O voto das mulheres", publicado em 1911)

"Era um período estranho, insatisfatório, cheio de aspirações ingratas. Eu a muito sonhava em ser útil para o mundo, mas como éramos garotas com pouco dinheiro e nascidas em uma posição social específica, não se pensava como necessário que fizemos alguma coisa diferente de nos entretermos até que o momento e a oportunidade de casamento surgisse. melhor qualquer casamento do que nenhum, uma velha e tola tia costumava dizer.
A mulher das classes superiores tinham que entender cedo que a única porta aberta para uma vida que fosse, ao mesmo tempo, fácil e respeitável era aquela do casamento. Logo, ela dependia de sua boa aparência, nos conformes do gosto masculino daqueles dias, de seu charme e das artes de sua penteadeira".
(Charlotte Despard, memórias não publicadas, registro de 1850)
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O filme "A Época da Inocência", do diretor Martin Scorsese, baseado em obra da escritora Edith Wharton, nos mostra o cotidiano das mulheres norte-americanas no século XIX. Nele podemos ver que as mulheres tinham que se preparar para um bom casamento e para o exercício da maternidade, como no caso de May (Wynona Ryder). Por outro lado, mulheres de comportamento considerado liberal, como Madame Olenska (Michelle Pfeiffer) eram desconsideradas socialmente.
"Permanecer solteira era considerado uma desgraça e aos trinta anos uma mulher que não fosse casada era chamada de velha solteirona. Depois que seus pais morriam, o que elas podiam fazer, para onde poderiam ir? Se tivessem um irmão, poderiam viver em sua casa, como hóspedes permanentes e indesejados. Algumas tinham que se manter e, então, as dificuldades apareciam. A única ocupação paga aberta a essas senhoras era a de governantas, em condições desprezadas e com salários miseráveis. Nenhuma das profissões eram abertas as mulheres; não havia mulheres nos gabinetes governamentais; nem mesmo trabalho de secretaria era feito por elas. Até mesmo a enfermagem era desorganizada e desrespeitada até que Florence Nightingale a tornasse uma profissão ao fundar a Nightingale School of Nursing (Escola Nightingale de Enfermagem) em 1860".
(Louisa Garrett Anderson, depoimento escrito de 1860)
"...os pais acreditavam que uma educação séria para suas filhas era algo supérfluo: modos, música e um pouco de francês seria o suficiente para elas. Aprender aritmética não ajudará minha filha a encontrar um marido, esse era um pensamento comum. Uma governanta em casa, por um breve período, era o destino habitual das meninas. Seus irmãos deviam ir para escolas públicas e universidades, mas a casa era considerada o lugar certo para suas irmãs. Alguns pais mandavam suas filhas para escolas, mas boas escolas para garotas não existiam. Os professores não tinham boa formação e não eram bem educados. Nenhum exame público (para escolas) aceitava candidatas mulheres".
(Louisa Garrett Anderson, depoimento escrito de 1839)

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A Educação das mulheres se restringia a atividades que fossem úteis no ambiente doméstico, desprovidas de valor no mercado de trabalho da época, como costurar, aprender música ou desenvolver habilidades artísticas.
"Nós eramos ensinadas a ser jovens senhoras católicas na mesma linha da educação dada a nossas avós. Não havia lições orais, não existiam demonstrações, análises ou resolução de problemas. Nós nos sentávamos e ficávamos silenciosas em nossas fileiras de carteiras, aprendíamos dos livros e nossas tarefas eram corrigidas por uma freira, que era a professora naquele momento, a partir das respostas na parte final de um livro similar ao nosso... Nós tínhamos longos períodos de instrução religiosa... Sexta feira a tarde era devotada exclusivamente a comportamento. Os Modos fazem uma dama nos era dito, não o dinheiro ou o ensino, não a beleza. Então praticávamos como abrir uma porta, entrar e sair de um cômodo; a trazer uma carta, uma mensagem, uma bandeja ou um presente; a pedir permissão às mães de nossas amigas para que elas pudessem participar de uma festa; a receber visitas na ausência de nossos pais, e assim por diante!"
(Teresa Billington, em autobiografia não publicada, 1884)

"A presença de jovens mulheres no local de operações é ultrajante para nossos instintos naturais e calculadamente vai destruir nosso respeito e admiração pelo sexo oposto".
(Documento emitido pelos médicos do Hospital Middlesex, em 1863, a respeito da admissão de médicas)
"Um argumento comum contra a prática da medicina pelas mulheres é que não há demanda para isso; Que as mulheres, como regra, têm pouca confiança em pessoas de seu próprio sexo e que preferem ser atendidas por homens... Isso é provavelmente um fato, até recentemente não tem existido demanda por médicas, pois não ocorre para a maioria das pessoas querer algo que não existe; mas que muitas mulheres desejam ser atendidas por pessoas de seu próprio sexo, eu tenho certeza, e sei de mais de um caso em que senhoras passaram por dificuldades, sem atendimento apropriado, por acharem repugnante a idéia de serem atendidas por homens.
Eu tenho, repetidas vezes, encontrado até mesmo médicos, não favoráveis ao presente movimento, concordar que consideram que os homens ficam deslocados ao tratar de mulheres; e um eminente médico americano uma vez me disse que ele nunca entrava no quarto de uma senhora para atendê-la em particular sem se desculpar pela "invasão" (de privacidade).
Na Inglaterra, no momento presente, há somente uma mulher legalmente qualificada para exercer a medicina, e eu entendo que o tempo dela é muito mais que totalmente ocupado, e seus ganhos muito maiores, do que é o caso de muitos médicos que começaram a atuar a pouco tempo".
(Shophia Jex-Blake, no livro "Medicina como uma profissão para mulheres", em 1869)
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Dentista: Segure-se eu vou chamar mais ajuda.
Charge que procura ridicularizar a atuação profissional das mulheres no século XX, na Inglaterra. Publicada pelo Punch Magazine em 1907.
"A idéia de mulheres exercendo a medicina na Grã-Bretanha era angustiante para a rainha Vitória. Então, em 1881, o médico particular da rainha anunciou que o apoio real a um congresso internacional de medicina a ser realizado em Londres seria retirado se médicas fossem admitidas, então as mulheres foram impedidas de participar".
(Louise Garrett Anderson, depoimento escrito, 1881)
"Eu tenho escutado freqüentemente comentários sarcásticos quanto às mulheres que trabalham em fábricas do tipo oh, ela é apenas uma operária; o que dá ao mundo a impressão que nós não temos o direito de sonhar com uma outra realidade a não ser a nossa. Eu lamento que ainda não estejamos atentas aos fatos e que percebamos que contribuímos muito para aumentar a riqueza da nação e, que em função disso, temos direito a respeito e não insultos. Pois em muitas casas de Lancashire há heroínas cujos nomes nunca serão conhecidos; ainda assim, é consolador saber que nós, como classe, contribuímos para o mundo".
(Selina Cooper, em artigo intitulado "The Lancashire Factory Girl", 1898)
Obs.: Os depoimentos acima foram traduzidos do site educacional Spartacus, especificamente no link http://www.spartacus.schoolnet.co.uk/women.htm

Moda e Design na História da Indumentária – Parte 3/4



kg parisapres t O que é design de moda? Moda e Design na História da Indumentária   Parte 3/4
O crescimento urbano do século XIX trouxe o aumento da quantidade de indivíduos vivendo em um pequeno espaço, ocasionando transformações profundas entre eles.
O deslocamento para o trabalho em bondes, metrôs e ônibus gerou desafios em termos de organização e apresentação das informações: como sinalizar a geografia da cidade, com seus novos bairros e ruas; como ordenar a convivência e o fluxo de transeuntes para minimizar a insegurança provocada pelo confronto com estranhos e com diferenças culturais e de classes sociais? compras de natal O que é design de moda? Moda e Design na História da Indumentária   Parte 3/4camillepissaroplacedutheatr O que é design de moda? Moda e Design na História da Indumentária   Parte 3/4
Uma grande questão deste contexto foi como comunicar para um público anônimo os préstimos de um produto desconhecido, já que na cidade, com as economias das sobras dos salários, aumentava o número de pessoas capazes de consumir e, segundo Rafael Cardoso (2004)):
Entre as mercadorias cujo consumo mais se expandiu no século 19 estão os impressos de todas as espécies, pois a difusão da alfabetização propiciou nos centros urbanos um verdadeiro boom do público leitor. O anseio de ocupar os momentos de folga deu origem a outra invenção da era moderna: o conceito de lazer popular que desenvolveu-se cem estreita aliança com a abertura de uma infra estrutura cívica composta por museus, teatros, locais de exposição , parque e jardins.

Em todo o mundo ocidental, a segunda metade do século XIX foi um período de crescimento das elites urbanas e portanto, de ampliação das atividades culturais de toda espécie, incluindo a produção e veiculação de imagens que anunciavam novos produtos e ensinavam sobre seus usos culturais
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Isso criou novas tecnologias para impressão de texto, e uma expansão do mercado para produtos gráficos, que gerou uma grande evolução no campo da reprodução de imagens que se deu a partir do florescimento de um mercado editorial que se explica tanto pela redução no custo de produção como também pelo aumento do tamanho do público leitor.
Igualmente, o uso de impressos de formato muito especializado está condicionado diretamente a necessidades que variam de acordo com o lugar e a época. E ainda segundo Cardoso (2004):

O cartaz publicitário serve como um bom exemplo da especificidade da comunicação visual a um determinado contexto social e cultural. O cartaz, bem como seu sucessor, o outdoor, teve uma aplicação principalmente urbana como peça de divulgação. O uso do cartaz só faz sentido em contexto em que há o que divulgar, o que tanto explica a existência de reclames e avisos afixados a muros desde muito antes da popularização do cartaz e sua relativa escassez em contextos de pouca atividade comercial.
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A rápida evolução dos meios, impressos de comunicação é outro fator que distingue o século XIX. Diversos avanços de ordem tecnológica vieram juntar-se nessa época à ampliação do público leitor, além de livros e jornais, foram criados veículos impressos novos ou pouco explorados anteriormente, como o cartaz, a embalagem, o catálogo e a revista ilustrada.
No contexto da indústria gráfica o papel do designer adquiriu um valor redobrado, pois o critério principal que distinguia a qualidade dos impressos já não era mais a habilidade de execução gráfica, mas a originalidade do projeto e principalmente das ilustrações.
A proliferação de jornais e revistas ilustrados deu início a um rápido processo de avanço nas tecnologias disponíveis para impressão de imagens, era preciso gerar uma linguagem gráfica adequada às novas possibilidades de reprodução e, segundo Cardoso é preciso lembrar que (2004):
…entre as tentativas toscas de justapor textos e imagens características do inicio do séc.19 e as sofisticadas programações do final do mesmo, existe um mundo de diferenças não somente de ordem tecnológica, mas também em termos de cultura visual.
A evolução desse campo na era moderna é um fenômeno que depende da existência de um público leitor urbano, com nível de renda e de instrução condizente com o consumo regular de impressos.
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O conceito do lazer popular que se desenvolveu em estreita aliança com a abertura de uma estrutura cívica composta por museus, teatros, locais de exposição, parques e jardins, culminou com o animado espetáculo das grandes lojas de departamentos. Nas grandes capitais da Europa e da América, a segunda metade do século XIX foi marcada por uma verdadeira explosão de consumo, principalmente como o surgimento, na década de 1890, das primeiras lojas de departamento, também conhecidas como magazines. Au Bon Marché em Paris e Macy’s em Nova Yorque transformaram as compras em uma atividade de lazer.
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Macy’s
Para as mulheres, às quais era vedada uma maior participação em outras atividades como o trabalho e o estudo, a loja de departamento acabou se transformando em um mundo com infinitas possibilidades de interação e de expressão social, que mantinha a mulher  longe, tanto da solidão doméstica, quanto do perigo das ruas. O fenômeno se espalhou por todo o mundo gerando outros nomes famosos como o Liberty de Londres, o Printemps e o Samaritaine em Paris ou a Notre Dame de Paris na Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro.
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Printemps
Além do impacto sobre o imaginário do consumidor, as lojas de departamento contribuíram para a formação de métodos de distribuição e venda de mercadorias, pois garantiram a transição do consumo de varejo para o ritmo e escala industrial.
Para Cardoso (2004):

As lojas de departamento viraram cenários aproximando-se assim, do espetáculo e do hábito moderno de olhar como forma de consumir. Consumir com os olhos caracteriza o regime de consumo como lazer e espetáculo. Desde o anúncio no jornal até os grandes reclames afixados às paredes, a publicidade começa a se definir na passagem do séc IXX para o XX como o veículo principal para a expressão dos sonhos em comum.
Entretanto, é na moradia da classe média, na intimidade do lar, nas mesas, estantes, gavetas e armários da burguesia, grande e pequena, que se encontra um dos primeiros focos históricos importantes para a personalização do design.
A preocupação com a aparência da própria pessoa e, por extensão, da moradia, como indicador de status, serviu para a formação de códigos complexos de significação em termos de riqueza, estilo e acabamento de materiais e objetos.
O exterior da casa das pessoas passou a ser visto cada vez mais como uma expressão do seu sentido interior, passível de apreciação e interpretação. A impressão de conforto, de luxo e às vezes de elegância passou a revelar uma preocupação extrema com o bem estar, a estabilidade e a solidez.
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A abundância de objetos, que compôs o lar burguês vitoriano, tem revelado muito sobre as condições sociais decorrentes da Revolução Industrial: o interior doméstico passou a se configura como um lar, como local de refúgio e de certezas, oposto ao perigo e instabilidade das ruas.
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Interior do lar burguês vitoriano
O novo luxo dos interiores burgueses contrastava com o lixo, a miséria e a doença crescente nas ruas das cidades. Em nome da higiene, da segurança e do progresso, foram empreendidas, em diversas capitais, reformas urbanas de grande porte, como a reurbanização de Paris executada pelo Barão de Haussmann e a do Rio de Janeiro. A preocupação com a higiene não se limitou ao saneamento urbano.
As campanhas sanitaristas acabaram redimensionando as condições de higiene doméstica com conseqüências importantes para a área do design: às virtudes do lar, como o conforto e bem estar, se juntaram a limpeza e eficiência. Louças sanitárias, instalações hidráulicas e eletrificação doméstica fizeram surgir os primeiros eletrodomésticos e também produtos de limpeza com sabão, desinfetante.
Em paralelo ao redesenho das cidades e das casas ocorreu uma reorganização tanto nas fábricas quanto nos escritórios. A evolução do design de móveis de escritório mostra a mudança na conceituação e na natureza do trabalho. As escrivaninhas foram substituídas por mesa e a função de arquivar foi desmembrada para um outro móvel: o arquivo.
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Evolução do design de móveis
Tal mudança coincide com o ingresso da mulher no escritório, ocupando nova posição, como a secretária. Com o advento da máquina de escrever em 1880, o declínio do escrevente e o surgimento do ofício da secretária revela um fenômeno sociológico que se reflete claramente na configuração física e espacial do escritório moderno que foi se moldando uma nova ordem social.
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O surgimento do ofício da secretária
E foi contrapondo-se ao senso nítido de desordem e desagregação que marcou a industrialização nos países europeus, que o século XIX chegou ao fim munido de instituições e serviços encarregados de impor e manter a ordem dentro do espaço urbano, criando desde bombeiros, escolas, transportes e até hospitais.
Segundo Elisabeth Wilson, em sua obra Enfeitada de Sonhos (1989), na moda, a indústria têxtil deu o arranque da Revolução e, não houve literatura e pensamento teórico que escondesse a forte exploração trabalhista das mulheres neste setor. Incomodava àqueles contemporâneos que, enquanto as mulheres da sociedade burguesa se vestiam com roupas luxuosas, as operárias das indústrias têxteis eram exploradas, recebendo baixos salários, trabalhando em condições de grande insalubridade e excesso de carga horária.
ilustracao de sapataria na epoca da revolucao industrial jornada de trabalho de mais de 12 horas O que é design de moda? Moda e Design na História da Indumentária   Parte 3/4
Ilustração de sapataria na época da Revolução Industrial: jornada de trabalho de mais de 12 horas – Imagem do site klickeducação.

Em poucos anos, a indústria inglesa do algodão dominava o mundo, tendo destruído as indústrias de algodão indígena do subcontinente indiano e devorado a matéria-prima na qual se baseava, o que implicou condições de vida e de trabalho duras pra mulheres e crianças daquela colônia.
A partir do século XVIII o tecido de algodão passou a ser usado não somente para forros ou artigos domésticos, mas também para as roupas da alta sociedade. A partir daí as técnicas de estamparia do algodão foram mecanizadas, aumentando a venda e a procura do produto.
A industrialização da lã também começou a se estabelecer definitivamente na Inglaterra, deixando de ser uma tecelagem de domínio familiar e artesanal, passando a ser usada inclusive pela alta sociedade, pois anteriormente era um tecido usado somente pelas classes mais baixas.
Quanto à tecelagem da seda, que foi sempre considerada mais luxuosa do que a lã e o algodão foram entre os séculos XVII e XVIII que a Inglaterra passou a ser importante produtor de tecidos dessa fibra. Esta indústria incluía na sua mão de obra homens e mulheres dos mais diferentes níveis sociais, tais como os ricos mestres tecelões e as mulheres e crianças trabalhadoras mais exploradas. A seda sempre foi um tecido raro, difícil de ser produzido por exigir uma mão-de-obra muito qualificada.
Na cadeia produtiva têxtil as fibras mais conhecidas encontram-se na natureza: a seda, a lã, os pelos e as crinas de origem animal e os caules que permitem a extração de fibras de origem vegetal. As fibras químicas abrangem as fibras sintéticas, derivadas de produtos petroquímicos, e as artificiais derivadas da celulose.
Enquanto as fibras naturais necessitavam de um trabalho intensivo ou de grandes espaços, e por vezes de ambos, a produção dos tecidos sintéticos não necessitava nem de um tipo especial de clima, nem de uma força de trabalho abundante.
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Desenho mostra maquinário têxtil inglês: a automação crescente é marca da Revolução Industrial – Imagem do site klickeducação.
Por Queila Ferraz
Saiba mais sobre a Revolução Industrial e a Era Vitoriana
eravitoriana O que é design de moda? Moda e Design na História da Indumentária   Parte 3/4
Madame Moitessier, 1856
“A Era Vitoriana corresponde ao reinado da Rainha Vitória e ao período da Revolução Industrial Inglesa, dotada de mão-de-obra barata e impulsionada por potentes máquinas a vapor. Apesar de se tratar de uma referência inglesa, a rainha Vitória teve grande influência na moda.
As saias ficaram mais rodadas e o efeito desejado era obtido usando um enorme número de anáguas, mas seu peso acabou ficando intolerável. Surge a crinolina de armação ou anágua de arcos, introduzida pela Imperatriz Eugênia. Simbolizando a nova era do aço, mas com a tecnologia a seu favor, era feita de arcos flexíveis de aço que podiam formar uma peça separada na cintura ou costurada na anágua. A crinolina foi o símbolo da moda do Segundo Império, uma armação com aros de crina de cavalo prensada. Usada por mulheres de todas as classes sociais, surge como a libertação para as mulheres que não mais se encontravam presas em várias camadas de anáguas. A cintura extremamente apertada com ajuda do espartilho.
Nesse contexto se torna possível o surgimento de figuras como Charles Fredéric Worth com sua grande contribuição para a moda. Considerado o criador da “Alta Costura”, a confecção sob medida e feita a mão, foi o primeiro a criar uma coleção completa para cada estação. Suas criações marcaram a segunda metade do século XIX.
Com a invenção da máquina de costura, denominada “democratizadora da moda” e a distribuição de moldes de papel que chegavam pelo correio, tornaram as costureiras escravas de suas máquinas, pois o trabalho era mal pago. ”
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Invenção da máquina de costura

Le Bom Marché, La Samaritaine e Printstemps são exemplos de magazines da época, com um novo conceito de venda, pois ali comercializava roupas prontas, artigos masculinos, femininos, infantis, meias, sapatos e chapéus.
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Traje Vitoriano
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Anúncio de máquina de costura
Notre Dame de Paris na Rua do Ouvidor está entre os primeiros magazines brasileiros.
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Rua do Ouvidor no Rio de Janeiro- 1890
rio branco altura da rua ouvidor rj O que é design de moda? Moda e Design na História da Indumentária   Parte 3/4
Rua Rio Branco na Altura da Rua Ouvidor no Rio de Janeiro
Por Queila Ferraz


A ascensão da burguesia

A burguesia não surgiu no século XIX, mas o seu lugar nas sociedades do Antigo Regime era, por vezes, subordinado; e as suas ambições últimas não podiam então realizar-se senão mediante o acesso à nobreza. Havia nesse tempo várias burguesias: a burguesia industrial ou de comércio que co-habitava com uma burguesia do serviço do Estado e uma burguesia de rendimentos. Apesar das frequentes troças das natas intelectuais, essa burguesia impôs no século XIX o seu pendão e os seus valores. Era liberal, socialmente conservadora, e preferia a poupança às despesas ostentatórias. Era a portadora da ideologia do progresso.
Só alguns burgueses tinham acesso a formas de responsabilidade e de poder que os faziam participar nos círculos superiores da sociedade. Esses grandes notáveis – banqueiros, donos de manufacturas, homens da política – depressa formaram – em duas ou três gerações – dinastias que souberam inventar estratégias que lhes permitissem perpetuar-se. Mas as mentalidades burguesas impregnavam a média e a pequena burguesia – essa middle class, essas novas camadas sociais cujo advento Gambetta anunciava. Deste modo – e nisso reside um dos segredos da sua força -, a burguesia europeia só no vértice é uma casta. Na sua ampla base, mergulha raízes nos meios populares urbanos – dos quais se alimenta, que enquadra e moraliza dando-lhe sempre a ilusão de continuar a ser uma categoria aberta.
Nos seus prédios novos das grandes cidades, as burguesias europeias criaram um estilo de existência: uma estrita vida de família, embora só às mulheres imponha restrições. Um «interior» mantido por pessoal doméstico para que nele se respire o desafogo e também a respeitabilidade e a decência – pilares de uma moral burguesa que tanto se pode basear numa inspiração cristã como numa inspiração laica. O século XIX foi o tempo da estabilidade monetária. As riquezas burguesas podiam transmitir-se intactas de uma geração a outra. A poupança era, nesse tempo, uma virtude. As burguesias, liberais por essência, eram solicitadas por duas tendências contraditórias: o desejo de manter o adquirido – e aí estava a tentação de viver de rendimentos – e o desejo de inovar e criar – e aí estava a tentação conquistadora. Assim se explicam as duas imagens antagonistas da burguesia – descrita umas vezes como saciada e satisfeita e outras como imaginativa e progressista. O fundamental liberalismo da burguesia é que, decerto, no permite compreender essa aparente ambiguidade.


BORNE, Dominique, “A Europa Dominante (1789-1914)”, in História da Europa, dir. de Jean Carpentier e François Lebrun, Referência/Editorial Estampa, pp. 322-323