terça-feira, 23 de outubro de 2012

Maria José Franca, As Mulheres da República: Maria Veleda




Grupo das Treze, fundado por Maria Veleda, em Maio de 1911, para combater a superstição. Em 1.º plano, sentadas a partir da direita: Judite Pontes Rodrigues, Carolina Amado, Ernestina Pereira Santos, Lídia de Oliveira, Maria Veleda, Antónia Silva e Adelina Marreiros. Em 2.º plano, em pé: Honorata de Carvalho, Mariana Silva, Filipa de Oliveira, Berta Vilar Coelho, Lénia Loyo Pequito e Carolina Rocha da Silva. (Foto legendada por Natividade Monteiro in «Memórias de Maria Veleda»)
Maria Veleda com o Jornal «República» na mão
Foto de família – em 1953: Sentados, da esq.ª para a direita: prima Justina, tia Alice, MARIA VELEDA, avó Arminda e a minha mãe (Laura, neta de Maria Veleda); em pé, da esq.ª para a direita: tio Pedro e tia Ester (netos de Maria veleda), avô Cândido (filho de Maria Veleda e do meu bisavô Cândido Guerreiro, poeta algarvio), tia Leonor e tio Cândido (netos de Maria Veleda)Maria Veleda
 
 
Homenagem a MARIA VELEDA – uma das mais notáveis Mulheres Republicanas
Maria Veleda é o pseudónimo de Maria Carolina Frederico Crispin, que nasceu em Faro (26 de Fevereiro de 1871) e morreu em Lisboa (8 de Abril de 1955). Pertencia a uma família da classe média, muito conhecida no meio social e cultural de Faro.
Maria Veleda - Há 101 anos, Maria Veleda já tinha começado a sua luta (desde 1905) em prol da República e dos ideais de «Liberdade, Igualdade, Fraternidade». Participou no «5 de outubro de 1910». Sofreu, chorou, também foi feliz. Viveu com intensidade todos os momentos da sua vida. Dedicou-se de alma e coração à sua família, que se prolongou na minha mãe, nas minhas tias, em mim, nos meus primos, no meu filho. Hoje e sempre - respeito, orgulho e AMOR por esta mulher de aspeto frágil mas de enorme fortaleza interior!
Aos quatro anos já sabia ler e escrever. Aos sete estreou-se no Teatro Lethes, represe…ntando um pequeno papel. Como o pai era responsável cultural da Sociedade Teatral de Faro, levava Maria Carolina muitas vezes para assistir a espetáculos, o que despertou nela a paixão pelo Teatro.
Com a morte do pai, em 1882, a família ficou em situação económica difícil. Assim, aos quinze anos, decidiu começar a trabalhar para ganhar a vida para não sobrecarregar a mãe e conquistar independência. Na época, as escolhas profissionais para as jovens eram muito limitadas: ser professora era uma das poucas profissões “aceitáveis” numa sociedade preconceituosa. Devido à sua pouca idade, esta rapariga tão corajosa optou pelo ensino particular, também devido à sua afetividade e amor pelas crianças.
Mais velha, e já numa carreira de intervenção pública, Maria Veleda acreditava no poder da educação sobre a sociedade, como fonte de felicidade e fator de progresso.
O amor pelas crianças levou Maria Carolina, com apenas dezanove anos, a adotar um bebé de catorze meses, filho da caseira da quinta dos pais, criança que ela levou para todo o lado e que educou como seu filho autêntico. Chamava-se Luís Frederico – bisavô do meu filho.
Sonhando ser escritora, começou a publicar poesia, contos e crónicas nos jornais regionais algarvios e alentejanos, ao lado de Francisco Xavier Cândido Guerreiro, mais conhecido pelos dois últimos nomes, poeta por quem teve uma paixão enorme. Deste grande amor, nascerá o meu avô Cândido Guerreiro Xavier da Franca (em 19 de Outubro de 1899), autor do livro No Sertão dos Diamantes, crónicas sobre os seus primeiros anos em Angola.
Maria Veleda recusará casar-se com o poeta, por não se julgar suficientemente amada. Acreditava que um casamento se devia fazer por amor e não por conveniências sociais. Assim, assumiu-se como mãe solteira num tempo cheio de preconceitos, criando e educando sozinha os dois filhos: Luís Frederico (adotivo) e Cândido Guerreiro (filho biológico).
Entre 1899 até 1905 foi professora do ensino primário em Odivelas (onde nasceu o filho) e Serpa. Continuou a publicar artigos, poemas e contos na imprensa regionalista. Em 1902, publicou a coleção «Biblioteca Infantil – Contos Cor-de-Rosa», em fascículos, com o objetivo de distrair e formar as crianças.
Em 1905, Maria Veleda vai para Lisboa: tinha trinta e quatro anos. Levava os dois filhos e a sua mãe. Passou grandes dificuldades económicas para alimentar a sua família. Trabalhou, como professora, num asilo e depois num colégio, de onde foi despedida porque tossia muito e desconfiavam que ela estivesse tuberculosa.
Mas como nem tudo corre mal, um dia, desempregada, soube por acaso que precisavam de uma professora no Centro Escolar Republicano Dr. Afonso Costa. Aceitou imediatamente e toda a família foi viver para o Centro, onde estava a escola. Data desta época o início do contacto de Maria Veleda com as principais personalidades republicanas da época, como Magalhães Lima, Ricardo Covões, Afonso Costa… quando ainda se vivia em Monarquia – era Rei D. Carlos I. Começou a minha bisavó a escrever para alguns jornais de Lisboa e a ter intervenções políticas nas sessões e comícios a favor da República. Alguns destes discursos e conferências foram publicados no livro A Conquista, prefaciado por António José de Almeida, sexto presidente da República Portuguesa.
E mesmo antes da Revolução do 5 de Outubro de 1910, inicia Maria Veleda a campanha em defesa da emancipação da mulher, em defesa da mulher grávida e das crianças exploradas e abandonadas.
Em 1908, organiza o 1.º Congresso do Livre Pensamento e é uma das sócias fundadoras de um movimento chamado Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, em 28 de Agosto de 1908.
Sempre preocupada com o bem-estar das crianças e lutando para salvaguardar os seus direitos, fundou a Obra Maternal para acolher e educar crianças abandonadas ou em perigo moral, instituição que se manterá até 1916, graças à solidariedade da sociedade civil e às receitas obtidas em saraus teatrais, cujas peças dramáticas e cómicas Maria Veleda também escrevia e levava à cena. Dirigiu a revista «A Mulher e a Criança». Criou cursos noturnos no Centro Republicano Afonso Costa, onde era professora do ensino primário, e nos Centros Republicanos António José de Almeida e Boto Machado, para ensinar as mulheres a ler e a escrever e as educar civicamente, preparando-as para o exercício de uma profissão e participação na vida política. Combateu a prostituição, sobretudo a de menores. Fundou o “Grupo das Treze” para combater a superstição, o obscurantismo e o fanatismo religioso que afetava sobretudo as mulheres e as impedia de se libertarem dos preconceitos sociais.
Do Centro Republicano da Ajuda assistiu à implantação da República. As notícias contraditórias sobre quem ganhara, levaram-na a destruir documentos.
Depois do 5 de Outubro de 1910, integrou o Grupo Pró-Pátria e percorreu o país em missão de propaganda, discursando em defesa do regime ameaçado ainda pelos monárquicos resistentes. Envolveu-se também na propaganda a favor da entrada de Portugal na 1ª. Guerra Mundial.
No entanto, a instabilidade governativa e divergências internas entre republicanos, o assassinato do Presidente da República Sidónio Pais, em 1918,e os acontecimentos da «noite sangrenta» de 19 de Outubro de 1921 (em que foram assassinados, por forças da GNR, os heróis do 5 de Outubro) levaram a que Maria Veleda desistisse da vida política, desiludida com os sucessivos governos republicanos que não cumpriram os ideais de «Liberdade, Igualdade e Fraternidade». No entanto, continuou a publicar artigos em defesa da mulher e da criança e também poemas.
A desilusão com os caminhos políticos do seu País levou a que Maria Veleda se tivesse dedicado ao espiritualismo: fundou o «Grupo Espiritualista Luz e Amor» e, em 1925, dinamizou a organização do I Congresso Espírita Português e participou na criação da Federação Espírita Portuguesa. Fundou as Revistas A Asa, O Futuro e A Vanguarda Espírita; colaborou na imprensa espiritualista de todo o país, publicando poesia e artigos de pendor reflexivo e memorialista. Em 1950, publicou as «Memórias de Maria Veleda» no jornal República.
Desde 1912, que estava ao serviço da «Tutoria da Infância», primeiramente como Delegada de Vigilância, depois como Ajudante de Secretário, tendo-se reformado em Fevereiro de 1941 (quando completou setenta anos de idade) com uma pensão muito pequena. Morreu em 1955.
Em Abril de 2011, foi publicado, finalmente, o livro «Memórias de Maria Veleda». ORIGEM

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Educação da mulher em Portugal : entre finais do século xix e início do século xx: O Instituto de Odivelas

Aula na Casa da Luz, Almanach Bertrand, 1903, p. 366-369.
Aula na Casa da Luz, Almanach Bertrand, 1903, p. 366-369.

Dormitório na Casa da Luz, Almanach Bertrand, 1903, p. 366-369.
Dormitório na Casa da Luz, Almanach Bertrand, 1903, p. 366-369.
Recreio - Já em Odivelas, após as obras de adaptação, In Portugal Militar, Nº 2, 1º ano, Fevereiro de 1903, p.19.
Recreio - Já em Odivelas, após as obras de adaptação, In Portugal Militar, Nº 2, 1º ano, Fevereiro de 1903, p.19.



O Instituto de Odivelas (Infante D. Afonso) foi fundado pelo Infante D. Afonso Henriques, (1865 - 1920), Duque do Porto e Condestável do Reino, a 14 de janeiro de 1900.
A cerimónia de inauguração oficial foi presidida pelo Rei D. Carlos e contou com a presença da Família Real e de individualidades civis e militares. O ato oficial, com a assinatura do termo de inauguração, seguido de festa e de jantar, teve lugar no casa dos condes de Mossâmedes, na Estrada da Luz, em Lisboa. Igualmente ali, na chamada Casa da Luz, funcionou provisoriamente a escola, com 17 alunas, enquanto decorreram as obras no edifício do antigo Mosteiro de Odivelas. Em novembro de 1902, o Instituto Infante D. Affonso passou a funcionar nas instalações renovadas.


1. Da “iniciativa simpática” à inauguração.
Em 1898, um grupo de oficiais do Regimento n.º 1 de Infantaria da Rainha (D. Maria Pia) teve, de acordo com o jornal O Século de 27 de fevereiro, “uma iniciativa sympatica [e se] lembrou da fundação de um collégio para a educação das filhas de oficiais, nos mesmos termos do collégio militar”.
Também segundo a imprensa da época, “Foi um capitão d’esse regimento, o senhor Alfredo António Alves, quem alvitrou a fundação de um estabelecimento, analogo ao Colegio Militar, para educação e instrucção de filhas de officiaes, o qual, alem dos indispensáveis conhecimentos litterarios, desse ás educandas uma profissão honesta e em harmonia com a profissão dos paes.” E mais adiante: “… foi uma commissão solicitar da rainha D. Maria Pia, e de seu filho o infante D. Affonso, o patrocínio dos seus nomes e da sua influencia para a instituição nascente”. (Almanach Bertrand de 1903).
Entretanto, iniciaram-se os trabalhos preparatórios com a formação da Comissão Executiva, presidida pelo Infante D. Afonso, com vista à elaboração das bases dos Estatutos e à organização económica da futura instituição de ensino.

Ainda em 1898, a 4 de junho, a Rainha D. Maria Pia e o Infante D. Afonso visitaram o Mosteiro de Odivelas, edifício pedido ao Ministério da Fazenda para casa do futuro estabelecimento militar de ensino. Tal pedido acontecera dias antes, num ofício datado de 27 de maio onde o Infante D. Afonso indicava: “… edifício que muito convem seja o Convento de Odivellas, que magnificamente se presta aquelle fim." (Arquivo Histórico das Finanças – Institutos Religiosos, Freiras).
Por Decreto de 30 de maio de 1834 tinham sido extintas as Ordens Religiosas em Portugal e os bens dos mosteiros e conventos, quer masculinos, quer femininos, tornaram-se “bens da Fazenda Nacional”, ou seja, património do Estado. Em 1886, com a morte da última abadessa, o Mosteiro de Odivelas foi incorporado na Fazenda Nacional. Finalmente, a 6 de agosto de 1902 seria lavrado o auto de entrega do antigo convento, incluindo a propriedade rústica “Valle das Flores”, ao Instituto Infante D. Afonso.
A 9 de março de 1899, o Rei D. Carlos aprovou o Estatuto do Instituto Infante D. Afonso. Eis um excerto do seu Artigo 2º:
“Sob a protecção de Suas Magestades e Altezas é criado um colégio para instrução e educação de filhas (…) de oficiais combatentes e não combatentes da armada e dos exercitos do reyno e do ultramar, com a finalidade, (…) de dar as alunas a necessaria educação moral e religiosa, uma instrução geral e, alem disso, a instrução profissional que possa, de futuro, criar-lhes os precisos meios de subsistência.” (Ordem do Exército n.º 2 – 9 de março de 1899).
A criação do Instituto Infante D. Afonso teve, inicial e especialmente, como finalidade instruir e educar órfãs filhas de oficiais mortos em combate ou por doença. Com esse propósito fora, igualmente, criado o Real Colégio Militar, em 1803. Em França, já anteriormente, em 1807, tinha sido criado um colégio em Saint-Denis, próximo de Paris, a Maison d’ Éducation de La Légion d’Honneur, destinado às filhas dos oficiais franceses da Légion d’Honneur.
Os estatutos do colégio francês serão estudados e constituirão uma das fontes para a redação dos primeiros Estatutos do Instituto Infante D. Afonso. De referir que desde 1977, o IO e a MELH mantêm um intercâmbio anual, cultural e de línguas.
No dia 14 de janeiro de 1900 nasceu o Instituto Infante D. Afonso. O Conselheiro e General Luiz Augusto Pimentel Pinto foi o seu primeiro Diretor, (de 14 de janeiro de 1900 a 14 de outubro de 1911), e Albertina Lopes de Assis Gonçalves foi a Aluna nº 1.

Texto integral AQUI

sábado, 22 de outubro de 2011

GÊNERO: UMA QUESTÃO FEMININA?



GÊNERO: UMA QUESTÃO FEMININA?

* Lúcia Cortes da Costa
Podemos começar nossa reflexão discutindo porque as questões relativas as mulheres são tratadas sob o termo de Gênero? O termo Gênero foi um conceito construído socialmente buscando compreender as relações estabelecidas entre os homens e as mulheres, os papéis que cada um assume na sociedade e as relações de poder estabelecidas entre eles.

No mundo onde vivemos existem três reinos: o reino animal, o reino vegetal e o reino mineral. No reino animal, os seres sexuados dividem-se em machos e fêmeas. As diferenças sexuais são baseadas nas diferenças biológicas. O organismo do macho é diferente do da fêmea. Essa diferença natural também marca o desenvolvimento da espécie humana

Na espécie humana temos o ser masculino e o ser feminino. A reprodução da espécie humana só pode acontecer com a participação desses dois seres. Para perpetuar a espécie, os homens e as mulheres foram criando uma relação de convivência permanente e constante. Surgiu com o desenvolvimento da espécie humana, a sociedade humana.

A sociedade humana é histórica, muda conforme o padrão de desenvolvimento da produção, dos valores e normas sociais. Assim, desde que o homem começou a produzir seus alimentos, nas sociedade agrícolas do período neolítico (entre 8.000 a 4.000 anos atrás), começaram a definir papéis para os homens e para as mulheres.

Nas sociedades agrícolas já havia a divisão sexual do trabalho, marcada desde sempre pela capacidade reprodutora da mulher, o fato de gerar o filho e de amamentá-lo. O aprendizado da atividade de cuidar foi sendo desenvolvido como uma tarefa da mulher, embora ela também participasse do trabalho do cultivo e da criação de animais.

Surgem as sociedade humanas, divididas em clãs, em tribos e aldeias. Na fase pré-capitalista o modelo de família era multigeracional e todos trabalhavam numa mesma unidade econômica de produção. O mundo do trabalho e o mundo doméstico eram coincidentes.

A função de reprodutora da espécie, que cabe à mulher, favoreceu a sua subordinação ao homem. A mulher foi sendo considerada mais frágil e incapaz para assumir a direção e chefia do grupo familiar. O homem, associado a idéia de autoridade devido a sua força física e poder de mando, assumiu o poder dentro da sociedade. Assim, surgiram as sociedades patriarcais, fundadas no poder do homem, do chefe de família.

A idéia de posse dos bens e a garantia da herança dela para as gerações futuras, levou o homem a interessar-se pela paternidade. Assim, a sexualidade da mulher foi sendo cada vez mais submetida aos interesses do homem, tanto no repasse dos bens materiais, através da herança, como na reprodução da sua linhagem. A mulher passou a ser do homem, como forma dele perpetuar-se através da descendência. A função da mulher foi sendo restrita ao mundo doméstico, submissa ao homem.

As sociedades patriarcais permaneceram ao longo dos tempos, mesmo na sociedade industrial. Porém, nas sociedades industriais o mundo do trabalho se divide do mundo doméstico. As famílias multigeracionais vão desaparecendo e forma-se a família nuclear (pai, mãe e filhos). Permanece o poder patriarcal na família, mas a mulher das camadas populares foi submetida ao trabalho fabril. No século XVIII e XIX o abandono do lar pela mães que trabalhavam nas fábricas levou a sérias conseqüências para a vida das crianças. A desestruturação dos laços familiar, das camadas trabalhadoras e os vícios decorrentes do ambiente de trabalho promíscuo fez crescer os conflitos sociais.

A revolução industrial incorporou o trabalho da mulher no mundo da fábrica, separou o trabalho doméstico do trabalho remunerado fora do lar. A mulher foi incorporada subalternamente ao trabalho fabril. Em fases de ampliação da produção se incorporava a mão de obra feminina junto à masculina, nas fases de crise substituía-se o trabalho masculino pelo trabalho da mulher, porque o trabalho da mulher era mais barato. As lutas entre homens e mulheres trabalhadoras estão presentes em todo o processo da revolução industrial. Os homens substituídos pelas mulheres na produção fabril acusavam-nas de roubarem seus postos de trabalho. A luta contra o sistema capitalista de produção aparecia permeada pela questão de gênero. A questão de gênero colocava-se como um ponto de impasse na consciência de classe do trabalhador.

Assim, nasceu a luta das mulheres por melhores condições de trabalho. Já no século XIX havia movimento de mulheres reivindicando direitos trabalhistas, igualdade de jornada de trabalho para homens e mulheres e o direito de voto.

Ao ser incorporada ao mundo do trabalho fabril a mulher passou a ter uma dupla jornada de trabalho. A ela cabia cuidar da prole, dos afazeres domésticos e também do trabalho remunerado. As mulheres pobres sempre trabalharam. A remuneração do trabalho da mulher sempre foi inferior ao do homem. A dificuldade de cuidar da prole levou as mulheres a reivindicarem por escolas, creches e pelo direito da maternidade.

Na sociedade capitalista persistiu o argumento da diferença biológica como base para a desigualdade entre homens e mulheres. A mulheres eram vistas como menos capazes que os homens. Na sociedade capitalista o direito de propriedade passou a ser o ponto central, assim, a origem da prole passou a ser controlada de forma mais rigorosa, levando a desenvolver uma série de restrições a sexualidade da mulher. Cada vez mais o corpo da mulher pertencia ao homem, seu marido e senhor. O adultério era crime gravíssimo, pois colocava em perigo a legitimidade da prole como herdeira da propriedade do homem.

No século XX as mulheres começaram uma luta organizada em defesa de seus direitos. A luta das mulheres contra as formas de opressão a que eram submetidas foi denominada de feminismo e a organização das mulheres em prol de melhorias na infra-estrutura social foi conhecida como movimento de mulheres. A luta feminina também tem divisões dentro dela. Os valores morais impostos às mulheres durante muito tempo, dificultaram a luta pelo direito de igualdade. As mulheres que assumiram o movimento feminista foram vistas como "mal amadas" e discriminadas pelos homens e também pelas mulheres que aceitavam o seu papel de submissas na sociedade patriarcal.

A luta feminina é uma busca de construir novos valores sociais, nova moral e nova cultura. É uma luta pela democracia, que deve nascer da igualdade entre homens e mulheres e evoluir para a igualdade entre todos os homens, suprimindo as desigualdades de classe.

Após a década de 1940 cresceu a incorporação da força de trabalho feminina no mercado de trabalho, havendo uma diversificação do tipo de ocupações assumidas pelas mulheres. Porém, no Brasil, foi na década de 1970 que a mulher passou a ingressar de forma mais acentuada no mercado de trabalho. A mulher ainda ocupa as atividades relacionadas aos serviços de cuidar (nos hospitais, a maioria das mulheres são enfermeiras e atendentes, são professoras, educadoras em creches), serviços domésticos(ser doméstica), comerciárias e uma pequena parcela na indústria e na agricultura.

No final dos anos 1970 surgem movimentos sindicais e movimentos feministas no Brasil. A desigualdade de classe juntou os dois sexos na luta por melhores condições de vida. O movimento sindical começou a assumir a luta pelos direitos da mulher. Na década de 1980, quando nasceu a CUT, a bandeira das mulheres ganhou mais visibilidade dentro do movimento sindical. Surgiu na década de 1980 a Comissão Nacional da Mulher Trabalhadora, na CUT.

A luta pela democratização das relações de gênero persistiu e com a Constituição Federal de 1988 a mulher conquistou a igualdade jurídica. O homem deixou de ser o chefe da família e a mulher passou a ser considerada um ser tão capaz quanto o homem.

Na década de 1990, no Brasil, a classe trabalhadora enfrentou o problema da desestrutração do mercado de trabalho, da redução do salário e da precarização do emprego. As mulheres são as mais atingidas pela precarização do trabalho e pela gravidade da falta de investimentos em equipamentos sociais (creches, escolas, hospitais). Embora sejam mais empregáveis que os homens, isso decorre da persistente desigualdade da remuneração do trabalho da mulher. A mulher passou a ter um nível educacional igual e as vezes até superior ao do homem, porque como enfrenta o preconceito no mundo do trabalho, ela deve se mostrar mais preparada e com maior escolarização para ocupar cargos que ainda são subalternos.

Os critérios de contratação das mulheres no mundo do trabalho estão impregnados pela imagem da mulher construída pela mídia e colocada como padrão de beleza. O empregador ainda busca a moça de "boa aparência". Assim, as mulheres sofrem dupla pressão no mercado de trabalho, a exigência de qualificação profissional e da aparência física. O assédio sexual ainda é uma realidade para a mulher no mundo do trabalho, isso decorre da própria cultura patriarcal que foi colocando o homem como o senhor do corpo da mulher.

Apesar de tantas dificuldades as mulheres conquistaram um espaço de respeito dentro da sociedade. As relações ainda não são de igualdade e harmonia entre os gênero feminino e o masculino. O homem ainda atribui à mulher a dupla jornada, já que o lar é sua responsabilidade, mas muitos valores sobre as mulheres já estão mudando. O homem também está em conflito com o papel que foi construído socialmente para ele, hoje ser homem não é nada fácil, pois as mulheres passaram a exigir dele um novo comportamento que ele ainda está construindo.

Quando a igualdade de gênero se coloca, cresce o espaço da democracia dentro da espécie humana. A democratização efetiva da sociedade humana passa pela discussão das relações de gênero, neste sentido a luta das mulheres não está relacionada apenas aos seus interesses imediatos, mas aos interesses gerais da humanidade.

BIBLIOGRAFIA:

BESSA, Karla Adriana Martins (ORG). Trajetórias do Gênero, masculinidades... Cadernos PAGU. Núcleo de Estudos de Gênero. UNICAMP. Campinas, São Paulo. 1998.

MURARO, Rose Marie. Sexualidade da mulher brasileira. Corpo e Classe social no Brasil. Rio de Janeiro: Vozes, 1983.

In   http://www.uepg.br/nupes/Genero.htm

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Mulheres republicanas: Adelaide Cabete


Adelaide Cabete (1867-1935)
Uma Professora Feminista



"Esse dia 4 de Outubro de 1910 foi cheio de mil sobressaltos e incertezas, e tão longo, que me areceu um ano.
Essa noite foi triste e lúgrube, e tão longa, tão longa que me pareceu um século.
Durante todo esse dia se ouviu o ribombar da artilharia, ora próxima, ora longínquo, como o crepitar de armas de fogo. "

Adelaide Cabete

Ver também AQUI

Mulheres na implantação da República?

Neste quadro da República da autoriade Roque Gameiro, Ana de Castro Osório é a única republicana em meio a uma multidão masculina

"Mulheres na implantação da República? É curioso que a imagem que eu tenho da República é só de homens vestidos de preto e com aqueles chapéus enormes na cabeça, Talvez tenha a ver com um quadro que, desde a infância, eu vi na mercearia da minha terra (Braga).  únca mulher era a própria República, de mamas ao léu.
A minha avó não gostava nada do quadro e chegou  dizer ao merceeiro para o retirar dalí."

José Leon Machado à autora, Abril 2010 (in As Mulheres na Implantação da República) de Fina Machado p. 210. Esquilo

domingo, 2 de janeiro de 2011

Educação burguesa no seculo XIX

 

Entre quatro paredes
Espelhando-se na nobreza, a elite não queria saber de escola: seus filhos eram educados em casa por preceptoras rigorosas. De preferência, estrangeiras
Maria Celi Chaves de Vasconcelos
O que vai pela cabeça das nossas crianças? Houve um tempo em que a resposta a essa dúvida não estava apenas na família, muito menos na escola. Quem quisesse entender os hábitos e a visão de mundo dos brasileiros no século XIX, deveria prestar atenção a outra figura fundamental naquele período: a preceptora.

Dos brasileiros abastados, é claro. Sob a proteção de Sant’Ana, muitas mulheres letradas, principalmente estrangeiras, obtinham seu sustento trabalhando como educadoras dos filhos da elite. Contratá-las era uma prática comum entre os ricos do Brasil, copiada de tradicional costume da nobreza européia na educação de seus jovens fidalgos. As preceptoras residiam na casa de seus alunos, acompanhando-os não só nas lições diárias, mas também em atividades cotidianas, como missas, passeios e outros afazeres. Já os chamados professores particulares visitavam as casas dos estudantes semanalmente, ministrando aulas de primeiras letras ou de disciplinas específicas.

A vinda da família real e da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro, em 1808, impulsionou a criação de instituições de ensino no país. Mas isso não chegou a seduzir uma elite que via a educação como algo dispensável e, às vezes, até pecaminoso, particularmente para as mulheres, pois acreditava-se que a “doutorice” feminina as desviava do destino natural de se tornarem mães de família, inteiramente dedicadas à casa e aos filhos, comprometendo a obediência aos maridos e pais.  Além disso, as escolas públicas eram poucas e a qualidade do ensino, duvidosa. Pior do que isso para aqueles pais era constatar que as escolas permitiam a mistura de crianças e jovens de categorias sociais diferentes. Temiam a possibilidade de surgirem laços de amizade entre seus filhos e colegas desfavorecidos. Some-se a isso o fato de que a educação nas escolas implicava, obviamente, a divisão dos alunos em classes e o ensino coletivo. Essa proposta era bastante polêmica. Considerava-se que a uniformidade do conteúdo poderia ter nefastas conseqüências intelectuais. Como todos tinham que acompanhar o mesmo ritmo, o ensino inevitavelmente se nivelaria por baixo, para ajustar-se “ao talento e viveza do mais indolente e estúpido da classe”, afirmava em 1788 um articulista anônimo do Jornal enciclopédico, publicado em Portugal.

E se os nobres portugueses educavam seus filhos em casa, por que os endinheirados da terra não haveriam de fazê-lo?

A maneira mais usual para a contratação de preceptoras e professores particulares era por meio de anúncios publicados nos jornais. Famílias solicitavam os serviços de mestres para a educação doméstica, e os próprios mestres ofereciam seus préstimos. Dos candidatos era exigido que tivessem excelente conduta, independência da família, e que fossem solteiros. Contava também a posição social e a fortuna dos patrões para os quais já houvessem trabalhado. Excelente referência era ter ensinado “em casa de uma respeitável família brasileira”, ou mesmo em “casas de família nobre”. A experiência na função de preceptora era outro atrativo para os que buscavam esses serviços: quanto maior a idade, mais adequadas eram as candidatas – levando-se em conta que a faixa etária a partir dos 30 anos já era vista como “meia-idade”.

No princípio, as mulheres disputavam com os homens as mesmas possibilidades de atuação como preceptores, mas a partir da década de 1860 elas começaram a predominar na educação doméstica. Isso se devia à própria natureza das funções exercidas pelos preceptores, uma vez que precisavam residir com as famílias de seus alunos, entrando na intimidade das casas senhoriais, condições mais apropriadas a uma atuação feminina do que masculina.

Abria-se, assim, um campo privilegiado para mulheres estrangeiras, principalmente as alemãs, francesas e suíças. O fato de virem de países “civilizados” dava-lhes certa credibilidade, pois pareciam mais lúcidas e conhecedoras de inovações e tendências ainda não divulgadas longe das grandes metrópoles européias. Também eram bem-vistas as brasileiras que acabavam de chegar da Europa e as que tinham fluência em idiomas. Algumas delas eram filhas bastardas que haviam recebido a formação como herança, já que os pais não poderiam assumi-las publicamente. Esse era o caso de Martha de Vasconcellos, personagem central do conto A preceptora, de Maria Amália Vaz de Carvalho, escrito em 1905, no qual a origem da preceptora portuguesa era assim descrita: “O pai de Martha era casado, tinha filhos, vivia para sempre longe dela nas tranqüilas alegrias da família, uma família em que ela só podia ser a intrusa! Desde esse dia, Martha estudou com dobrado afinco, aprendeu com uma ânsia dolorosa, com um não sei quê de impaciência inexplicada” (p. 208-209).

As estrangeiras eram conhecidas por seu rigor em ensinar os pupilos. Algumas, intitulando-se adeptas de Rousseau, chegavam a submeter as crianças a atitudes de extrema perversidade. Muitas tinham como instrumentos de trabalho a “palmatória de páo”, “a vara de marmeleiro” e as “correias”. Os pais sabiam o que ocorria, mas de algum modo todos os excessos eram justificados pela teoria, na época inquestionável, de que “as crianças são difíceis e são necessários governantas e preceptores para educá-las, mas, sobretudo, para torná-las grandes pessoas”. Atos violentos eram aceitos como “bons princípios pedagógicos”, como descreve Sofie Deroisin em seu livro Petites filles d’autrefois (1997).

Os conhecimentos ensinados pela preceptora deveriam atender aos desejos da família que a contratava. Eram os pais que escolhiam, entre as matérias consideradas de educação, aquelas mais adequadas aos seus interesses para que fossem ministradas aos seus filhos.

Excetuando-se o português e o francês, que quase sempre estavam presentes nas lições oferecidas, os demais conhecimentos ensinados variavam entre a escrita, a leitura e contas, latim, inglês, alemão, italiano, espanhol, caligrafia, literatura, composição, religião, música, piano, gramática portuguesa, latina, francesa e inglesa, lógica, matemática, geometria, aritmética, álgebra, História do Brasil, geografia, desenho, pintura e aquarela. Para as meninas, havia habilidades específicas a serem ensinadas, como bordar, costurar, marcar, cortar, dançar, além de outros trabalhos manuais.

A duração dessa forma de educação era variada. O próprio mestre costumava atestar quando o aluno já estava apto a prestar os exames preparatórios para o curso secundário. Em outros casos, era a família que decidia quando era chegada a hora de dispensar os serviços do mestre, como fez a viscondessa do Arcozelo, que em 1887 abriu mão dos ensinamentos da preceptora para enviar seus filhos a uma escola em Paty do Alferes. Não foi um caso isolado. As elites começavam a cogitar a possibilidade de enviar seus filhos para colégios particulares ou estabelecimentos de ensino oficiais. Isso ocorria porque a propaganda atrelada ao movimento republicano e a legislação cada vez mais impunham a interferência do Estado na educação, por meio do controle das licenças concedidas aos professores e da discussão sobre a liberdade do ensino. Mas mesmo aqueles cujos filhos freqüentavam algum colégio, ou aqueles que os educavam eles próprios, em determinado momento recorriam aos serviços de uma preceptora.

Por outro lado, com a multiplicação dos anúncios de educação doméstica nos jornais, o serviço começou a ficar mais acessível às classes intermediárias. Na Europa, isso ocorria desde o século XVIII: o ensino em casa deixara de ser privilégio das crianças nobres para se tornar uma prática recorrente entre ricos comerciantes, altos funcionários e famílias de elite que se espelhavam nos hábitos da aristocracia. Esse movimento pela educação das crianças – a fim de que se preparassem melhor para a vida adulta ou, no caso dos meninos, para a ocupação das funções prioritárias na sociedade – era uma medida de progresso e ascensão social.

A função de preceptora era uma das poucas profissões aceitas e admitidas para mulheres que, sem ajuda financeira da família, precisavam de um trabalho fora de suas casas. Mesmo assim, somente aquelas que haviam recebido algum tipo de educação é que podiam candidatar-se a essa atividade, pois inúmeros conhecimentos eram exigidos pelos pais ávidos por criar seus filhos à semelhança da nobreza. Por “educarem” os filhos das elites, dominarem diversas áreas do saber e ocuparem um cargo ambicionado por estrangeiros que vinham para o Brasil, as preceptoras tinham lugar privilegiado nas estruturas sociais de sua época. Mas caminhavam num limiar muito tênue, entre o respeito à sua posição social e a imagem de empregadas das elites, tratadas como tal por seus senhores.

O contrato feito entre os pais e as preceptoras era informal, normalmente fruto de acordo verbal, sendo muito freqüentes a rotatividade e a descontinuidade desses serviços, com a dispensa das mestras a qualquer tempo, ou com as mesmas declinando da função. Se isso podia ser motivo de instabilidade e insatisfação, para algumas educadoras representava verdadeiro alívio. A alemã Ina Von Binzer, que veio para o Brasil em 1881, contratada para ser preceptora dos filhos de um grande fazendeiro na Província do Rio de Janeiro, foi uma delas: “É verdadeira sorte não se firmarem contratos aqui, nem se multarem as rescisões (...), podemos pelo menos fazer nossa trouxa quando julgamos que é demais”.

Maria Celi Chaves Vasconcelos é professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade Católica de Petrópolis (UCP) e autora do livro A casa e os seus mestres: a educação no Brasil de Oitocentos (Ed. Gryphus, 2005).


Saiba Mais - Bibliografia:

ARAÚJO, H. C. Pioneiras na educação, as professoras primárias na viragem do século 1870-1933. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional, 2000.
BINZER, Ina Von. Os meus romanos: alegrias e tristezas de uma educadora no Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994.
MONTEIRO, M.C. Sombra errante: a preceptora na narrativa inglesa do século XIX. Niterói: EdUFF, 2000.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

La Lunna 1 – MULHERES: A ILUSÃO DOS DIREITOS DEMOCRÁTICOS

O feminismo aparece, nos fins do século XVIII, como doutrina de defesa dos direitos democráticos das mulheres, no interior da Revolução burguesa de 1789. No período histórico da Revolução Francesa, o feminismo passou a atuar como movimento político, reivindicando a melhoria das condições de vida e trabalho das mulheres, a sua participação política, o fim da prostituição, o a acesso à educação e a igualdade de direitos entre os sexos.
votesforwomen La Lunna 1   MULHERES: A ILUSÃO DOS DIREITOS DEMOCRÁTICOS Após a Revolução Francesa, surgiram, no interior do movimento feminista, diversas outras doutrinas da libertação da mulher, que nem sempre tiveram preocupações convergentes. Mas ainda que existam diferenças claras entre as diversas abordagens feministas, parece-nos que existe entre elas certa identidade teórica. Em geral, os estudiosos da questão feminina buscam apoio para desenvolver as suas formulações doutrinárias, em conceitos que não se entrelaçam com o movimento político concreto das mulheres, mas sim, sobretudo, procuram apoiar-se em dados da antropologia, da economia, da sociologia, da psicologia e de outras ciências humanas. As diversas doutrinas sobre o feminino não se relacionam à própria prática política das mulheres. Podemos dizer que nesses movimentos existem grandes contradições, pois sendo o feminismo um movimento de mulheres, as teorias sobre o feminino costumam falar de uma espécie de Universal Mulher, ou seja, de uma mulher, presente em qualquer época histórica. Constrói-se assim a crença de que existe a Mulher enquanto conceito Universal.
Com o avanço da tecnologia, muitas transformações ocorreram na vida humana e para o trabalhador, em especial, elas tiveram um grande impacto. Esse novo processo se deu basicamente na fábrica, permitindo o aperfeiçoamento da divisão do trabalho. Com a introdução da maquinaria no século XIX, a base técnica do processo de produção não se encontrava mais no saber do trabalhador, mas sim, na maquinaria e em seu manejo mecânico.
A grande indústria capitalista, como dizia Marx, passou então, a exigir menos força física no processo de trabalho, e, consequentemente, a mão-de-obra feminina encontrou seu lugar no processo de produção capitalista. Então, para Marx, a mulher é lançada no mercado de trabalho do mesmo modo que o homem da classe operária, e como ele, tem a sua força de trabalho apropriada indevidamente pelo capital.
Concluindo, a conquista de direitos e a verdadeira emancipação da mulher não podem ocorrer dentro do sistema capitalista. A luta das mulheres é de toda a classe trabalhadora contra a burguesia. Como vimos, a história tem demonstrado que as relações entre homens e mulheres são construídas com base em determinadas realidades sociais e também, que o avanço do capitalismo fez com que essas relações se tornassem cada vez mais complexas, permanecendo, contudo, a desigualdade e a opressão. Em seu surgimento, o movimento feminista pensava em questões ligadas à prática política, hoje tornou-se apenas mais uma produção da pesquisa acadêmica. Exemplo disso é a mais recente lei Maria da Penha que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar, mas ao mesmo tempo, os projetos de lei orçamentária reduzem os recursos para o combate à violência.
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“La Lunna” é onde trataremos dos assuntos voltados ao universo feminino, sempre visando uma abordagem relevante no que diz respeito à história e aos direitos daquelas que são nossa fonte de inspiração

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